O Camões da música portuguesa: A produção sinfónica de juventude de Viana da Mota inspirada pela obra do poeta quinhentista

Rui Magno Pinto

Resumo


No panorama da música sinfónica e sinfónica-coral oitocentista portuguesa, várias foram as obras inspiradas por Camões e a sua obra: a monumental Messe de Requiem de Bomtempo, as menos conhecidas marchas de Cossoul, Reinhardt e Jorge Júnior, a abertura de Freitas Gazul e as cantatas de Augusto Machado e Miguel Ângelo Pereira prefaciaram a produção de um jovem Viana da Mota, que entre 1886 e 1894 tomou a épica e a lírica de Camões como paratextos de uma abertura dramática e de uma sinfonia em quatro andamentos. O presente artigo versa sobre os contextos que informaram a criação dessas várias evocações sinfónicas de Camões, bem como a sua conformidade com as concepções oitocentistas formuladas sobre o poeta, inscrevendo nessa genealogia as obras sinfónicas de juventude de inspiração camoniana de Viana da Mota. Uma análise da abertura dramática D. Ignez de Castro visa ilustrar os resultados da aprendizagem de Viana da Mota em Berlim, destacando a sua adopção de processos composicionais inéditos na música instrumental portuguesa da época. Tomando como fontes as apreciações da crítica à Sinfonia «À Pátria», publicadas aquando da apresentação da obra em Lisboa em 1894 e em 1896, pouco antes da estreia no Porto, discute-se a recepção do contributo de Viana da Mota para um emergente nacionalismo musical português, bem como a sua precoce consagração como o Camões da música portuguesa.


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